Parte da minha casa contém parte dos pertences dos meus antecedentes mais chegados. Creio que é natural esta sucessão de passagem de testemunho. Não fossemos nós cinco netos e o espólio seria bem mais volumoso. Direi que tenho um pouco mais do que um quinto das tralhas, porque me fui apoderando de tudo o que sentia ter valor sentimental para mim, enquanto que, os restantes herdeiros se prendiam mais para os valores materiais. Recentemente deparei-me com várias caixas de fotografias, na esmagadora maioria a preto e branco, algumas datadas, e escritas com dedicatória, locais, observações. A mais antiga vem dos anos 20, e presumo ter ali o retrato de um antepassado. Naquelas caixas residem também outros documentos, tais como passaportes, licenças de trabalho, carteiras profissionais, receitas, recados, segredos.
Tive o privilegio de privar muito com o meu avô, na fase final da sua vida. Dos longos diálogos que tivemos, alguns deles antecedidos da observação severa - que isto não saia daqui! Se não os tivesse tido estaria mais pobre, bem como se não recapitulasse toda a sua vida no puzzle das fotografias, estaria mais pobre. Os dois meses que passei a bordo daquele navio que foi a sua casa durante quase trinta anos, serviram, entre outros benefícios para entender o percurso de uma vida.
No filme "nas nuvens", o personagem interpretado por George Clooney usa o exemplo da vida e da mochila. Pela parte que me toca, valorizo muito mais aquelas caixas em tudo o que guardam, do que qualquer móvel de hipotético valor comercial. Espero que aqueles que se seguem, atentem no verdadeiro valor destas e das caixas seguintes, e as incluam nas suas mochilas.
São tão boas as nossas memórias. Nada é mais nosso...
ResponderEliminarO problema das memórias é que são sempre nossas e, por isso mesmo, diferentes das dos outros. Para além disso, ou por isso mesmo, vão-se diluindo no tempo, pelo que, mais cedo ou mais tarde, os rostos das fotografias deixam de ser reconhecíveis. Eu tenho cá algumas assim - Mas quem é este/a?! Porque carga de água está aqui esta foto?! :):) E isto não é, necessariamente, mau.
ResponderEliminarNão devemos viver d(as) memórias, mas sim saboreá-las.
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