Leio "os cadernos de Lanzarote", e deparo-me com inúmeras referências a Deus. Saramago comprou desde sempre uma guerra com Deus, e os seus defensores, bem como uma devoção raiando a cegueira à causa comunista, a qual, sabemos, presta tanto como as restantes, direita, socialista, social-democrata, todas pecam por falsas, porque não passam de uma fraude na prática, por mais puras e bem intencionadas que o sejam na teoria. É como diz o outro: a diferença entre direita e esquerda, reside apenas em qual das mãos te vai roubar.
Sobre a figura divina, partilho da frase de Woody Allen - se Deus existe, é bom que tenha uma boa explicação. E por aqui me fico. Não nutro ódios, revoltas, comentários incendiários, primeiro porque respeito os que crêem (exigindo-lhes reciprocidade), segundo porque sou com São Tomé (outra figura inventada). No entanto mesmo sendo incisivo, Saramago tem a meu ver um raciocínio prático e lógico, mesmo quando agressivo, pois aquilo que por ele é escrito é muito mais comprovável do que qualquer defesa dos que acreditam haver a dita existência superior.
"Como será possível acreditar num Deus criador do Universo, se o mesmo Deus criou a espécie humana? Por outras palavras, a existência do homem, precisamente, é o que prova a inexistência de Deus."
"Deus, definitivamente, não existe. E se existe é, rematadamente, um imbecil. Porque só um imbecil desse calibre se teria lembrado de criar a espécie humana como ela tem sido, é -- e continuará a ser."
"Como poderiam saber os judeus que estavam matando alguém que tempos mais tarde umas quantas pessoas afirmariam ser, simultneamente. Desu e filho de Deus? permitiria Deus, se existisse, que em seu nome se criassem estas confusões e estes conflitos, estes ódios absurdos, estas vinganças demente, estes rios de sangue derramado? Pergunto. Não apareceria ele por aí, com um sorriso triste, a dizer à gente: olhem que não vale a pena. A morte é certa e eu não posso fazer nada."
"levaram Deus a todos os lugares da terra e fizeram-no dizer: "não adoreis essa pedra, essa árvore, essa fonte, essa águia, essas luz, essa montanha,, que todos eles são falsos deuses. Eu sou o único e verdadeiro Deus". Deus, coitado dele, estava caindo em flagrante no pecado de orgulho".
"Deus não precisa do homem para nada, excepto para ser Deus".
"Cada homem que morre é uma morte de Deus. E quando o último homem morrer, Deus não ressuscitará."
"Os homens a Deus, perdoam-lhe tudo, e quanto menos o compreendem, mais o perdoam."
"Deus é o silêncio do universo, e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio."
in Cadernos de Lanzarote I e II