sábado, 11 de fevereiro de 2017

Relatos do Grão Ducado 5, Meu Fado Meu Fado

Redescobri também por aqui o Fado. 

A este, conheço-o de tenra idade, desde o ouvir nas telefonias das avòs, e também nas suas bocas. Cantarolavam-no durante os seus afazeres caseiros. Uma das minhas avòs, traìda pelo meu avô, cantava muitas vezes, "dà tempo ao tempo... que o tempo corre e não cansa, e eu não perdi a esperança, de te ver chorar por mim...". O Fado, a Sina, o Destino, a Saudade, sempre viveram comigo, nas trazeiras das casas de Lisboa, nos programas da rtp a preto e branco, nos filmes da época aurea do cinema português.

Quando ingressei nos conjuntos o Fado passava-me um pouco ao lado. Eram tantos os temas para tocar, era tanta a descoberta do rock, das baladas, das canções da moda, que o Fado ficou para ali esquecido, remetido a um canto, onde apenas cantava Duas làgrimas de orvalho porque era da praxe o conjunto ter um tango, uma valsa, um paso doble, e também um fado, no repertòrio.
Para agravar a situação do desdém pelo Fado, estavamos no quente pòs 25 de Abril. A revolução não pactuava com sìmbolos do passado. Cometeram-se abusos totalitàrios. Algumas bestas de esquerda entenderam conotar o Fado ao fascismo. Felizmente, grandes compositores de esquerda tiveram o discernimento de o escrever, como o grande Ary dos Santos, e de o cantar, embora de cara lavada, como Fernando Tordo, com o Novo Fado Alegre, ou José Màrio Branco com o Fado da Tristeza.
Neste percurso dos conjuntos partilhei palcos com D.Amàlia, D.Herminia, muitos outros fadistas, mas aquilo do Fado, soava-nos a seca. Aproveitava-se para beber umas cervejolas...
A excepção desses anos foi apaixonar-me à primeira audição do vinil do Carlos do Carmo, Um Homem na Cidade.

Fechado o ciclo de tocar em grupo, a solo, venho a interessar-me por tudo o que tenha a ver com Ary dos Santos, e dali cheguei ao Fado, e à Senhora D.Amàlia. Até ali a sua voz, apenas passava nos meus ouvidos. Ao deixar-me penetrar pelo sentimento que esta mulher colocava nas canções, vieram os primeiros arrepios, e não mais deixei de escutar de ouvidos e sentidos, e respeitar, o Fado.

Não existem acasos, existe sim, a teoria do caos. Uma coisa leva a outra. E se não tivesse vindo parar a estas terras, muito certamente não estaria hoje a cantar o Fado, a sentir, a tocar, a aprender, a pisar palcos que nunca sonhei, e com um projecto em mente, que, a concretizar-se serà motivo de alma cheia. Se no entanto, este meu Fado não se cantar, contarà a felicidade de ter tentado.


1 comentário:

  1. ...fado é sorte, e do berço até a morte, ninguem foge, por mais forte ao destino que Deus dà ...

    ResponderEliminar

Sputnickadelas