segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Relatos do Grão Ducado 6, o primeiro dia

Começou hoje a execução deste devaneio a que me propus. Não creio que seja entusiasmo passageiro dado que é uma ideia amadurecida, e por isso se justificou ter carregado trabalho de casa, para melhor me documentar e preparar para este propòsito. Nem que seja para ter mais poder argumentativo juntos das portas às quais vou bater. Nem que seja porque se a matéria me interessa, sabê-la, estudà-la, faz todo o sentido. Nem que seja porque certamente estarei mais sàbio, e menos ignorante quando a obra estiver terminada. Nem que seja porque existe neste projecto uma justificação acrescida para voltar ao desenho a làpis de carvão, o que não fazia hà mais de vinte anos. Hoje foi o primeiro dia dos primeiros esboços escritos e rabiscados. Muitos dias virão em que não acontecerà nada, e outros haverão de mão cheia. As disponibilidades e as vontades serão a voz de comando. Vontades que prevejo não me virão a faltar, pois como aqui ilustro são amores meus: desenho, Fado, fotografia, Lisboa...

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Relatos do Grão Ducado 5, Meu Fado Meu Fado

Redescobri também por aqui o Fado. 

A este, conheço-o de tenra idade, desde o ouvir nas telefonias das avòs, e também nas suas bocas. Cantarolavam-no durante os seus afazeres caseiros. Uma das minhas avòs, traìda pelo meu avô, cantava muitas vezes, "dà tempo ao tempo... que o tempo corre e não cansa, e eu não perdi a esperança, de te ver chorar por mim...". O Fado, a Sina, o Destino, a Saudade, sempre viveram comigo, nas trazeiras das casas de Lisboa, nos programas da rtp a preto e branco, nos filmes da época aurea do cinema português.

Quando ingressei nos conjuntos o Fado passava-me um pouco ao lado. Eram tantos os temas para tocar, era tanta a descoberta do rock, das baladas, das canções da moda, que o Fado ficou para ali esquecido, remetido a um canto, onde apenas cantava Duas làgrimas de orvalho porque era da praxe o conjunto ter um tango, uma valsa, um paso doble, e também um fado, no repertòrio.
Para agravar a situação do desdém pelo Fado, estavamos no quente pòs 25 de Abril. A revolução não pactuava com sìmbolos do passado. Cometeram-se abusos totalitàrios. Algumas bestas de esquerda entenderam conotar o Fado ao fascismo. Felizmente, grandes compositores de esquerda tiveram o discernimento de o escrever, como o grande Ary dos Santos, e de o cantar, embora de cara lavada, como Fernando Tordo, com o Novo Fado Alegre, ou José Màrio Branco com o Fado da Tristeza.
Neste percurso dos conjuntos partilhei palcos com D.Amàlia, D.Herminia, muitos outros fadistas, mas aquilo do Fado, soava-nos a seca. Aproveitava-se para beber umas cervejolas...
A excepção desses anos foi apaixonar-me à primeira audição do vinil do Carlos do Carmo, Um Homem na Cidade.

Fechado o ciclo de tocar em grupo, a solo, venho a interessar-me por tudo o que tenha a ver com Ary dos Santos, e dali cheguei ao Fado, e à Senhora D.Amàlia. Até ali a sua voz, apenas passava nos meus ouvidos. Ao deixar-me penetrar pelo sentimento que esta mulher colocava nas canções, vieram os primeiros arrepios, e não mais deixei de escutar de ouvidos e sentidos, e respeitar, o Fado.

Não existem acasos, existe sim, a teoria do caos. Uma coisa leva a outra. E se não tivesse vindo parar a estas terras, muito certamente não estaria hoje a cantar o Fado, a sentir, a tocar, a aprender, a pisar palcos que nunca sonhei, e com um projecto em mente, que, a concretizar-se serà motivo de alma cheia. Se no entanto, este meu Fado não se cantar, contarà a felicidade de ter tentado.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Relatos do Grão Ducado 4, regressos e progressos

Nesta nova vida, a vida ensinou-me entre tantos outros ensinamentos, a gerir de outra forma os momentos. Até aqui chegar, a minha ansiedade sempre me afectou. Existe por dentro de mim, uma ansiedade, e uma insatisfação, que foi abrandando na proporção em que os dias aqui  iam correndo. 
Esse descomprimir possibilitou-me o acesso tão metodico como aleatorio, às gavetas da minha memoria, ao rebuscar emoções. Umas perdidas, outras esquecidas, outras trancadas a sete chaves. Não são fantasmas, dado que o que se viveu foi real, e se foi real està fora do campo da imaginação. O caminho é assumir e gerir.
Um dos maiores prazeres que este rencontro com os meus momentos e emoções de outrora, tem sido o revisitar das canções com as quais verdadeiramente vivi, pois vivi-as.
A nova vida permite-me rebuscar o prazer de rever os velhos albuns, tantos deles que guardo em vinil, no sotão, e nos acordes e melodia na minha mente. Alguns, quase esquecidos.
Sim, podemos e devemos voltar onde jà fomos felizes, e retomar o prazer unico de escutar a peça inteira, numa época em que a velocidade de navegação na internet é O dado adquirido. Imbecilmente roda-se a tela, visionam-se fragmentos, de videos, de musicas, de citações, etc. e fica-se imbecil na mesma, pois nada se aprendeu. Mea culpa também.

Mas o prazer dos regressos de visita ao passado não fica por aqui. Existe também a soma do dado novo, de reaprender o que jà se esquecera, bem como a descoberta deste ou aquele artista ou banda que sempre tivera vontade de aprofundar o conhecimento das suas obras. Uma forma deliciosa de evoluir, portanto. Porque quando escuto o noticiàrio em francês, alguma coisa fica, e quando escuto musica, ficam sempre mais notas e acordes aqui dentro. E nunca são demais, como comprovou Mozart, que as sabia encaixar como génio que foi.