
Recomendo.
Nada mais verdadeiro do que o texto acima. Durante todo o meu tractecto musical, se por norma fui pago, ocasiões houveram em que o tratamento dado aos músicos foi o de abaixo de cão, e os valores propostos, ridículos. Casos houveram em que se gastou para tocar...
Em tempos de pec's, troikas, crises & cortes, poder saborear um fim de semana no conforto de um bom hotel, é coisa rara. De tão rara que é, que há que valorizar cada detalhe, e não cair no erro de outros tempos que não voltam mais - banalizar. Em tempos de aperto de cinto, usufruir de todos os miminhos, confortos, aconchegos, spa's, buffets, tem um sabor que varia entre a alegria do momento e a tristeza de ter de pegar na mochila no dia seguinte. Porque estes mundos, hoje nos estão vedados. Não fora tudo isto a custo zero, e não haveria condição de cobrir tamanha despesa, pois tal como Aníbal, o dinheiro não me chega para as despesas. 
Seremos em breve espectadores impares. Porque seremos espectadores de nós mesmos. Os maus portugueses estão a conseguir a desprezível proeza de correr com os bons portugueses, do perímetro nacional. Cada dia que passa, se esgueiram pelas portas de saída, bons portugueses, com a fixa ideia de tão depressa não voltar. Assistiremos, os que vamos ficando, vez ou outra a relatos de sucesso dos bons portugueses lá por fora. E muito sucesso lhes desejo, aqui do meu cantinho por onde me vou ficando, com aquela pontinha de vontade de lhes seguir os passos, e abandonar esta espécie de Pátria que me pariu, com Passos cada vez mais mal dados.
De volta das tralhas no meu sotão, perdi-me um bocado no tempo, mais do que a ouvir-los, a rever-lhes as capas. Dos meus vinis, que tantos bons momentos ainda vão proporcionando. Alguns, verdadeiras pérolas, seja porque muito me dizem, porque me recordam vivências passadas, ou mesmo por serem raros. Este que aqui se apresenta de contracapa, reúne tudo. As canções são das melhores que o Tordo fez (presentemente nem me tem agradado muito, confesso), as letras, fabulosas, do Ary, os arranjos, também magníficos, do Pedro Osório, uma participação muito bem conseguida, da Adelaide Ferreira, e um leque de músicos de primeira. Tudo isto é mais que suficiente para o eleger como vinil de ultra estimação, mas a raridade deste disco, é que tem as assinaturas do Tordo e do Ary, feitas ali na minha frente, quando o comprei, no seu lançamento, numa remota Festa do Avante, no Alto da Ajuda.
Agora querem que os fumadores não fumem NEM À PORTA dos estabelecimentos. Exagero. Já lhes bastava terem de sair para a rua, por vezes ao frio e à chuva para saciarem o vício, e agora impõem-lhes perímetros de segurança... Considero perseguição. Por outro lado, apoiaria a coima a quem joga as beatas para o chão, ou as apaga nos areais da praia. Porque ao legítimo direito de fumar que se confere ao fumador não tem implícitamente de se associar a palavra porco.
Anda um gajo a poupar em tudo o que pode, a dizer não-te-abras à carteira, a remendar aqui e ali, e a improvisar mais acolá, a inventar técnicas de segurar os tostões, e adoece-me a bicha. E logo com a única forma de salvação pela via cirúrgica, a custo superior a um ordenado mínimo. Agora vejo-a, recomposta, rejuvenescida e alegre, sem sequer se incomodar com a cicatriz que lhe atravessa o ventre, e sinto que foi feito aquilo que tinha de ser feito. Pela bicha, e pelo meu egoísmo, pois ela faz-me falta, porque me limpa das neuras, que trago quando naqueles dias em que tudo corre ao contrário, me espera sempre com a mesma meiguice e fidelidade. Ou não fosse o cão, o melhor amigo do homem.


A pergunta é mais que batida, e a resposta mista com nova pergunta, ainda mais batida é, Então como foram essas Festas? - Foram boas, passaram-se, e as tuas? - Olha também foram. E blá blá blá. De resto bem vistas as coisas, acorda-se de um ano para o outro, sensivelmenteme na mesma, partindo do princípio que alguns excessos possam ter sido cometidos, mas nada que não passe depressa. Acho muito bem que a malta se divirta, bem como não acho piada a quem vive a noite como se fosse a última. Dizer que naquelas horas devemos esquecer os problemas e ser felizes, não me encaixa. Prefiro construir os meus pólos de felicidade, e tentar ter os problemas debaixo de olho, o quanto baste, e o quanto possa enfrentá-los. Por consequência, na prática encontro-me sempre em stand by para momentos de felicidade, fora do calendário estipulado, sem contudo implicar este modo, a tristeza nos dias oficialmente festivos, como no caso desta última passagem do calendário, umas das poucas em que não estive agarrado à viola. Não a passei como queria, mas passeia-a bem, entre chopsois e um embarque imprevisto. No que toca aos problemas, finda que foi a época oficial das Festas, que este ano me soaram a uma mistura de canto do cisne da euforia consumista, com uma trégua disfarçada dos nossos mandantes, será de bom tom a tomada de consciência do tema - mudar de vida. Bem como da actualização do célebre dito de Mário Soares, nos longínquos anos da primeira visita do FMI aqui ao burgo - temos que viver com aquilo que temos. Agora em nova versão, revista e actualizada - temos de viver com aquilo que não temos, e sem aquilo que deixámos de ter. Como já ando a praticar desde o ano velho, tenho esperança de não estranhar muita a diferença, neste ano que se diz, novo, e poder viver os meus momentos de felicidade que não têm data nem local marcados.